Lidar com Gatos

Há tanto tempo que lido com gatos, já é uma coisa tão inata em mim observar, interpretar o corpo e a expressão deles e consequentemente saber como lidar com eles que as vezes acho erradamente que todos sabem lidar com eles

Não saber lidar com gatos é algo bastante comum em pessoas que lidam mais com cães e não com gatos. Sem querer ofender ninguém acho que há pessoas-cão e pessoas-gato e conforme o seu tipo assim lidam com o cão e o gato. Eu sou uma pessoa-gato,   lido da mesma maneira com cães ou gatos. Não sou muito bem-sucedida com cães, não me sei impor, assusto-me com o ladrar deles e também com as brincadeiras mais animadas.

As brincadeiras típicas dos cães, festas de uma forma mais entusiasmada com um misto de provocação que eles adoram, não são próprias para gatos e a reacção deles, leva as pessoas a acha-los imprevisíveis, independentes e não domesticáveis. Lembro-me de uma gata que conheci e que estava numa associação, um amor de gata linda, super meiga e ronronadeira comigo. Durante uma visita de algumas pessoas que queriam adoptar um gato, vi esta mesma gata mudar o seu comportamento como eu nunca tinha visto. Uma rapariga aproximou-se dela e começou a brincar com ela e a fazer-lhe festas daquela forma que os cães gostam, a princípio ela estava gostar, mas começou a ficar assustada com tanta agitação e provocação até que bufou e fugiu, a pessoa achou que ela não era meiga e que como todos os gatos era “imprevisível”. No entanto, o problema não era a gata mas sim a forma como a pessoa lidou com ela, é preciso compreender a forma de ser de um gato. A forma como lidamos com um gato é essencial para que ele se torne num gato meigo.



O gato é um animal stressado por natureza, muito apreciador de rotinas e sossego. Ele precisa de calma, precisa de confiar em nós, não gosta de mudanças, de movimentos bruscos, gritos, nem que o olhemos nos olhos. O mais meigo dos gatos pode tornar-se agressivo e desconfiado, se não soubermos lidar com ele, e nem estou a falar de maus tratos, as vezes aquilo que achamos brincadeiras inocentes podem transformar o gato numa verdadeira peste.

Alguns gatinhos órfãos que criei, saíram da minha casa muito meigos, muito brincalhões mas nunca atacando as nossas mãos porque para eles as mãos eram uma fonte de festas e eles viam-me como a sua alimentadora, tratadora e massagista, não como um mano, brinquedo ou presa. Depois de uns tempos com uns donos-cão, o mesmo gatinho tornou-se um “cãozinho” malandro que morde e arranha com as suas garrazinhas, claro que ele é feliz assim. Mas depois ele cresce e os donos queixam-se. Ele acha piada caçar os donos quando vão a passar no corredor e fincar os seus afiados dentes na perna, se calhar um dia uma arranhadela acerta no olho, os donos começam a repreende-lo agressivamente coisa que ele não compreende, afinal até agora era tão giro brincarmos assim e o gato acaba no meio da rua ou devolvido.

Cada gato é um gato, e há claro aqueles que nunca serão dados ou domesticáveis, nasceram e viveram na rua, sempre lidaram com humanos que os enxotaram e apenas serão felizes em liberdade, junto dos seus e o mais longe de humanos possível, só se aproximando para obter comida quando não há outra forma de alimentação.



E depois há também aqueles, como a minha Jéssica. Ela foi retirada da rua com 2 meses com os manos, todos muito branquinhos, bonitinhos e meiguinhos, todos foram adoptados excepto a Jéssica porque ela detesta contacto humano, o que lhe aconteceu para ela ficar assim, não sei.

Esteve numa FAT que a tentou amassar para ser adoptada mas como não se conseguia e ela fazia com quem os gatinhos mais jovens tivessem a mesma atitude que ela, ia para um Gatil.

Eu adoptei-a, está comigo há dois anos e foge sempre que nos aproximamos demais, com pessoas estranhas não foge, voa e bufa. Eu já consigo fazer-lhe umas festas quando ela está mais molinha mas só eu tenho esse privilégio o que me deixa muito feliz. Quando é preciso apanha-la para ir ao vet, tem que ser com uma manta. Não a considero brava ou agressiva, por algum motivo ela tem muito medo de humanos, mas depois de confinada à caixa transportadora ou quando está no vet paralisa, cheia de medo. Apesar de ser uma gata que não confia em pessoas, é sem dúvida uma gata de casa. Gosta dos seus amigos gatos e do sossego da casa. Os meus outros gatos muito apreciadores de humanos, acalmam-na mas ela será sempre assim. Eu respeito-a e acho que aqui ela é feliz.